31 de maio de 2011

Raquel.

Não tenho escrito nada que não apague por ter perdido o sentido, um dia depois. Parecem pequenos grãos de areia a construir um castelo tão frágil como eu. Como se morasse na minha própria cabeça uma bomba emocional digital, torno-me um pequeno grão de areia e o castelo explode com lágrimas amargas. Uma faca no peito com um papel manchado de tanto... e pouco, vales muito pouco, mesmo pouco ao lado da verdade mórbida engolida e depois cuspida por ti quando já de nada te serve a mentira. Porque só quando não te serve a mentira, recorres à verdade. Pena o caminho ser tão longo. Percorremos telhados enormes por não sabermos atalhos, mas vemos luas que pouca iluminação nos dão, e de nada nos ajudam a reflectir. Fico triste, fico frustrada. Tu ficas em ponto pequeno... tão, tão pequeno.
Raquel.

21 de maio de 2011

Não mais balançar.

Claire falou-lhe ao peito: «Bato a porta devagar e vejo o sol eclipsar-se à minha frente. Vejo a minha vida gasta com dias maus, enfiados na cama que é a mente quando adormecida. Mas o nosso amor cheio de dias bons, embora com os sorrisos hoje em dia tão frios, tão pequenos e únicos. Porque continuas a sê-lo para mim: encantadoramente único? E eu, terrível, num só gesto caio rendida para a vida toda, não fosse eu ténue bailarina baloiçando na tua melodia e no revolutear que os teus olhos tomam quando ainda assim me negam. Balançamos, balançamos e voltamos a balançar… mas não caímos. Até ao dia

18 de maio de 2011

Diário do abismo

«Às vezes, poucas mas encantadoras - por estranho que pareça, precisamos apenas de morrer. De desligar. De deixar. De calar. De dizer não. De conter. De engolir. De não manifestar, protestar. Às vezes preciso de morrer, e acordar encantada com a vida que me engole todos os dias na viagem que é abrir os olhos pela manhã. Às vezes é bom morrer, deixar-me assim... desligada. Inconsciente. Calada, tão calada quanto os meus olhos. Que nem choram. Mas que estão fartos de conter as lágrimas que às vezes, quando morro, vêm assim bater-me à porta e nem esperam tempo suficiente para me convencer que será terapêutico. Talvez tudo se resume nisso: morrer inconscientemente. Só para nós. Morrer para nós, para os nossos sentimentos, morrer para toda a minha simpatia que nada me vale. Às vezes, mesmo que encantadoras - que sim, acabam por se tornar, mais vale morrer para tudo o que somos, e renascer no escuro. E sim, encantadoras porque é uma morte segura. Uma morte só minha. Umas lágrimas contidas, entre sinais apagados. Assim ninguém dá por mim. Assim é melhor. Vou acordar. No brilho.»


Raquel,

Diário do abismo

11 de maio de 2011

Tudo que mais quero é não perder a intensidade nos movimentos que sempre fizemos sem ser preciso esforço. Como amar sem o dizer. Não dito por palavras, mas sim e acima de tudo por movimentos, gestos, simples, mas nossos. É essa a intensidade e particularidade que tínhamos. E quando já não resta nada é nisso que penso e em ti que me agarro e é assim que acabo as conversas completamente apaixonada por ti. - confessou-lhe, a medo.

8 de maio de 2011

Domingos

Não me lembro dos domingos serem tão fastidiosos e de sorrisos desprovidos. Muito menos me lembro da vontade que tenho em permanecer bem acordada para não cair na calamidade que seria adormecer contigo no meu pensamento. Mas para cura dos meus males, o emocional diz-me que está tudo bem e que a segunda-feira será mais quente e feliz, no entanto para mal dos meus pecados, que não os tenho, o certo é que a lógica na minha cabeça dispara com sons derradeiros e prepotentes que me deixam… Terrivelmente consciente.

6 de maio de 2011

Claire

- Podemos falar?
- Não.
- E amanhã?
- Não. O amanhã deixou de existir entre nós. E tudo porque apenas ontem me sabia tão bem ver-te sentado a meu lado, sem nunca abusares das palavras por saberes como falar-me pelo silêncio que o amor transmite, e sabia-me tão bem sentir que não te queria deixar. Ontem sabias-me tão bem... Lamento que o dia se tenha deixado cair na morte, e que o nosso amanhã tenha deixado de existir.


Claire

4 de maio de 2011

1, 2 e 3.

O tempo não tem volta atrás. Da próxima vez que voltares a querer jogar às escondidas, só vou contar até três. Não mais.

3 de maio de 2011

Dói?

- Dói saber de quem são as culpas?
- Dói, mas dói muito mais saber que paguei por elas. Pelas tuas.

2 de maio de 2011

E aqueles corpos, personagens daquele amor terrível... Aqueles corpos, feridos, não sabiam de mais nada. Muito menos sabiam das palavras que outrora ecoavam por todos os cantos da sala onde houvera aquele beijo, tão terrívelmente apaixonado. Terrível por não prever que fosse só um beijo, coberto por toda a imensidão que as palavras tomam quando ditas com amor. Um só beijo. Reencontro ou despedida? Aqueles corpos, tão feridos, tão perdidos, nunca o perceberam... Talvez por viverem no meio termo. Na harmonia. Na utopia. Risonha, perfeita. Feliz. Surreal. Apenas sons, só sons. Os sons que os sonhos tomam. Eram tudo sons. Foi tudo um sonho.

1 de maio de 2011

Às vezes

... gostava de sair de mim e conseguir ver o que os meus olhos dizem.