«Desta vez sou eu a precisar dos teus braços, do teu amparo. De sentir que sei ainda decore o teu cheiro, que sei os teus passos e que ainda ouço ao fundo a tua voz, com medo de falar a verdade. Com a minha doçura inquietante, com a minha dificuldade em querer ser e sê-lo -
tão simples quanto dito. Parece que ainda estou à tua espera pela manhã, e que todos os dias eram dias para ser felizes. Que os beijos não eram tudo, mas a tua mão perto da minha era mais do que muito. Que eu era mais bonita, ganhava outra graciosidade quando te aproximavas, que nem um príncipe, um herói tão verdadeiro para mim que chegou sem me conhecer e vim a descobrir que nasci com o que mais gostas, nasci com bocados teus que não morrem nas despedidas, nem nas ausências, que tão longas têm sido. Que eu não morro se tu não estás, mas fico sem metade. Que me vou, para algures sem nome, tão fundo que escuro. E que lá não sei pintar o teu nome, nem acordar com vontade, que se torna constante a minha falta de
ser, e o meu choro inebriante a tocar-te o peito. De longe,
tão de longe. Mas parece que ainda me estou a ver ao teu lado, em segredos contados e pouco discretos, abraços que formavam o nosso espaço e desejo. Tão ternurento,
que só tu. Parece que ainda estou a falar-te simples, para que um amo-te não te confundisse demais. Parece que as saudades mergulharam no meus pés, sem os deixar mexer, no meu cabelo sem o deixar brilhar, nos meus braços sem os querer dar, em mim inteira sem me querer recuperar. Recuperar do que não se vai, do que não se desfaz de mim ou das minhas mãos. Parece que o inverno faz-me feliz se pensar em frio e abraços aconchegantes. Parece que estás perdido e que ainda sou a única maneira de te sentires orientado. Parece que não há outro caminho. Que, à luz dos meus olhos, nenhum outro caminho será viagem tão adorável quanto seguir-te
para onde quer quer vás. Onde quer que te escondas, sem aviso. Minha inconstância. Sou uma estupidez tão grande, que nos acho
o problema perfeito. Deixa-te ficar. O teu cheiro ficou, ficou tudo. Ficaste tu, mesmo sem saber. Agora tens me nas tuas mãos. Traz-me de volta.»
Claire volta a escrever-te, quando as folhas caem.
Outono, 2009